26 de nov. de 2018

Deficientes visuais superam limitações em busca da realização profissional

G1 Santos e Região
Por Mariana Romano, Rafaela Tonetto e Vitor Fernando*

Cinegrafista e fotógrafo descobriram como desenvolver habilidades para atuar profissionalmente em áreas que exigem sensibilidade apurada

Em um de seus trabalhos, a cinegrafista Micheli Correia diz que cada um tem de encontrar o jeito de aprimorar a percepção — Foto: Arquivo Pessoal


Micheli Correia, 31 anos, é uma cinegrafista sempre pronta para captar o melhor dos acontecimentos com suas câmeras, microfones de lapela, tripés e rebatedores. É uma rotina comum, não fosse por um detalhe: ela não enxerga desde que nasceu.

Micheli sempre lidou bem com as adversidades apresentadas ao longo da vida. Desde pequena, ela já gostava de registrar em áudio tudo o que fazia durante a aula e nos momentos de lazer.

O amor pelas filmagens teve início aos 9 anos, durante uma gravação para a escola. “Depois desse dia, me apaixonei pela câmera”. Mas, foi aos 15 anos que Micheli concretizou um sonho de infância. Durante uma brincadeira com amigos, ela decidiu colocar a percepção à prova. “Meus amigos queriam gravar uma dança. Um deles era cego como eu e disse que não conseguiria fazer a filmagem. Foi, então, que me ofereci e deu certo”, afirma.

A partir daí, Micheli passou a usar o celular para filmar ruas e o cotidiano, até conseguir comprar uma câmera de mão. Há nove anos, ela passou a buscar cursos especializados. “Meus trabalhos davam certo e fiz um curso de cinegrafia, mas não era o que precisava. Fui me aprimorando mais”.



A cinegrafista disse que teve que adaptar e readaptar técnicas para garantir o desenvolvimento da filmagem com maior precisão. “Cada um tem um jeito de entender o local em que está. Eu percebo o ambiente pelas maçãs do rosto das pessoas, pelas orelhas, ombros, tórax, dorso das mãos e pernas. Sempre desenvolvi essas habilidades, sem relação com a minha profissão”, garante.

Além de filmar profissionalmente, Micheli tem no YouTube o canal ‘Olhar Diferente’, que estimula outras pessoas com deficiência a evoluir tecnicamente na profissão que escolheram.

Caminhos se cruzam
Com baixa visão — pouco mais de 0,5% nos dois olhos —, o jornalista Teco Barbero, 36 anos, também é exemplo de superação. Parceiro de Micheli nas filmagens, os dois conversaram virtualmente durante um ano até que decidiram se encontrar para testar as técnicas na prática.

Juntos, Teco e Micheli produziram o documentário ‘Olhar Sensível’, resultado de um curso de fotografia para alunos com deficiência visual, filmado por Micheli. Eles ainda ministram palestras e workshops, além de publicarem conteúdos sobre o tema nas redes sociais.

Eles explicam que para a produção de vídeo é importante ter um auxiliar de câmera para guiar pelo espaço e descrever as cenas. Já para fotos, Barbero usa a contagem de passos e a referência do centro do rosto da pessoa, nariz e orelha.

Teco Barbeiro fotografou paratletas para a capa de revistas — Foto: Arquivo Pessoal

https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/educacao/noticia/2018/11/24/deficientes-visuais-superam-limitacoes-em-busca-da-realizacao-profissional.ghtml

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